Dados do Trabalho

Título

Choque Séptico Refratário por Ingesta de Ostras Contaminadas por Vibrio vulnificus: Um Relato de Caso

Descrição do caso

O Vibrio vulnificus, bactéria gram-negativa de ambientes marinhos de águas quentes e interior de moluscos filtradores, como ostras, infecta humanos por exposição de feridas à água contaminada ou pela ingesta de moluscos crus. Sintomas comuns compreendem gastroenterite, mialgia e febre. Infecções graves normalmente reservam-se a pacientes cirróticos, etilistas, diabéticos ou portadores de anemia. Apresentamos aqui o caso de um homem, 49 anos, com antecedentes de desnutrição e bypass gástrico há 15 anos, esteatose hepática e etilismo crônico, que chegou ao pronto socorro com queixa de dor intensa em membros inferiores e febre há 2 dias, hipotensão severa e hipoglicemia. Exames admissionais apontaram acidose metabólica, hiperlactatemia, anemia, leucocitose e procalcitonina elevada, sendo aberto protocolo de sepse. Diante da gravidade do caso, o paciente foi encaminhado à UTI em vigência de instabilidade hemodinâmica, já em altas vazões de noradrenalina, sendo iniciado piperacilina-tazobactam e teicoplanina empiricamente. Apresentava ainda acrocianose e manchas arrocheadas em membros inferiores que inicialmente remeteram a meningococcemia. O paciente evoluiu rapidamente para choque séptico refratário, livedo generalizado, e piora das lesões cutâneas, com descolamento epidérmico. Ao fim do segundo dia de internação, em cenário de pré-óbito, as culturas isolaram Vibrio vulnificus, confirmando-se, após acolhimento com esposa, a ingesta de ostras cruas pelo paciente há dois dias. Esse relato ressalta a importância da correlação entre anamnese e epidemiologia, devendo-se levantar suspeita de infecção por Vibrio vulnificus em pacientes que apresentem quadros infecciosos após ingesta de mariscos crus em regiões quentes, sobretudo em hepatopatas e etilistas.