Dados do Trabalho

Título

Cegueira aguda na terapia intensiva: situação rara e desafiadora.

Descrição do caso

Paciente masculino, 68 anos, portador de Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2). Diagnóstico ambulatorial de sinusite uma semana antes da internação, sendo iniciado Levofloxacina e Prednisona. Após dois dias, evoluiu com cefaléia e dor em face, com descontrole glicêmico. Procurando serviço de emergência. Internado no CTI por hipertensão em uso de nitroprussiato de sódio, hiperglicemia e acidose (sem critérios para cetoacidose). Tomografia revelou pansinusite. Após 48h, houve surgimento de celulite periorbitária esquerda. No dia seguinte, surgiu amaurose à esquerda, com oftalmoplegia e ptose palpebral ipsilateral. Angio-ressonância: neurite óptica isquêmica à esquerda. Coletado líquor; aspecto de meningite. Trocado Levofloxacin para Meropenem, Vancomicina e Anfotericina B-lipossomal visando cobertura para SNC e para sinusite fúngica invasiva. Vídeo-rinoscopia no leito, revelou extensas crostas em septo nasal com múltiplas áreas de necrose. Realizado desbridamento cirúrgico. Cultura do material desbridado com MRSA e histopatológico sugestivo de mucormicose. Trocada Anfotericina B por Posaconazol após 39 dias de internação, com alta hospitalar em seguida e proposta de uso prolongado do antifúngico oral.
A Mucormicose é uma condição rara e grave, com mortalidade que varia entre 40-80%, dependendo da apresentação clínica, chegando a 90% ocorrendo acometimento do sistema nervoso central (SNC). Principal fator de risco é DM2. A apresentação clínica mais comum da doença é sinusite grave podendo ser complicada com abscesso cerebral. Embora se trate de doença altamente letal na apresentação rino-órbito-cerebral, o paciente em questão recebeu alta hospitalar a despeito de amaurose unilateral persistente, devido principalmente, ao diagnóstico e tratamento antimicrobiano e cirúrgico precoces.