Dados do Trabalho

Título

Uso da tromboelastometria no manejo de coagulopatia persistente após acidente botrópico grave: relato de caso

Descrição do caso

Introdução: O envenenamento por serpentes do gênero Bothrops representa 90% dos acidentes ofídicos no Brasil, e inclui os casos de maior gravidade. Os mecanismos moleculares de ação do veneno incluem ativação do fator X e inibição do Fator de Von Willebrand, gerando hipofibrinogenemia e plaquetopatia. A maioria dos óbitos são relacionados à sangramento, e o tempo de coagulação (TC) é determinante para a classificação da severidade e titulação do soro antibotrópico. A persistência de distúrbios da coagulação após o acidente botrópico é marcador prognóstico e indica dose adicional do antiveneno.
Descrição do caso: Homem de 58 anos foi inoculado na mão direita durante atividade laboral, sofrendo queda e traumatismo cranioencefálico leve. Atendido em menos de 2 horas, já apresentava TC incoagulável e fibrinogênio sérico de 35mg/dl. Devido estabilidade hemodinâmica e ausência de necrose cutânea, teve o acidente classificado como leve e recebeu 3 ampolas de soro antibotrópico. Nas primeiras 24 horas, necessitou drenagem de hematoma supra-orbitário esquerdo e tomografia de crânio evidenciou hematoma subdural agudo com espessura de 0,6cm. Os testes convencionais de coagulação permaneceram alterados nas próximas 48 horas, a despeito da reposição de concentrado de fibrinogênio. A tromboelastometria rotacional (ROTEM) demonstrou hipocoagulabilidade relacionada à hiperfibrinólise. Após tratamento antifibrinolitico e dose adicional de soro antibotrópico, houve estabilização do sangramento e normalização da coagulação.
Comentários: Com boa acurácia para detectar coagulopatia e hiperfibrinólise, o ROTEM é útil para guiar a reposição de fatores da coagulação e avaliar resposta ao soro antibotrópico, particularmente em casos de sangramento ameaçador a vida.